Evangelho Segundo São Mateus

I. PRÓLOGO: A VINDA DO MESSIAS

1 Antepassados do Messias. 1Registro do nascimento de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. 2Abraão foi pai de Isaac. Isaac, pai de Jacó. Jacó, pai de Judá e seus irmãos. 3Judá foi pai de Farés e Zara, com Tamar. Farés, pai de Esron. Esron, pai de Aram. 4Aram foi pai de Aminadab. Aminadab, pai de Naasson. Naasson, pai de Salmon. 5Salmon foi pai de Booz, com Raab. Booz, pai de Obed, com Rute. Obed, pai de Jessé. 6Jessé, pai do rei Davi. Davi foi pai de Salomão, com a que foi mulher de Urias. 7Salomão foi pai de Roboão. Roboão, pai de Abias. Abias, pai de Asa. 8Asa foi pai de Josafá. Josafá, pai de Jorão. Jorão, pai de Ozias. 9Ozias foi pai de Joatão. Joatão, pai de Acaz. Acaz, pai de Ezequias. 10Ezequias foi pai de Manassés. Manassés, pai de Amon. Amon, pai de Josias. 11Josias foi pai de Jeconias e de seus irmãos no exílio da Babilônia. 12E depois do exílio da Babilônia, Jeconias foi pai de Salatiel. Salatiel, pai de Zorobabel. 13Zorobabel foi pai de Abiud. Abiud, pai de Eliacim. Eliacim, pai de Azor. 14Azor foi pai de Sadoc. Sadoc, pai de Aquim. Aquim, pai de Eliud. 15Eliud foi pai de Eleazar. Eleazar, pai de Matã. Matã, pai de Jacó. 16Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo. 17De Abraão até Davi são, pois, catorze gerações e de Davi até o exílio da Babilônia, catorze gerações e do exílio da Babilônia até Cristo, catorze gerações.

Origem divina do Messias. 18A origem de Jesus Cristo, porém, foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José. Mas antes de morarem juntos, ficou grávida do Espírito Santo. 19José, seu marido, sendo homem justo e não querendo denunciá-la, resolveu abandoná-la em segredo. 20Mas enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus. É ele que salvará o povo de seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: 23Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa: Deus conosco. 24Quando acordou, José fez como o anjo do Senhor lhe tinha mandado e aceitou sua mulher. 25E não teve relações com ela até que ela deu à luz um filho, a quem ele pôs o nome de Jesus.

2 O Messias nasce em Belém. 1Tendo nascido Jesus em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém 2e perguntaram: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 3Ao ouvir isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. 4Reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo, e começou a perguntar-lhes onde deveria nascer o Cristo. 5“Em Belém da Judeia – responderam eles –, pois assim foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de forma alguma és a menor das sedes distritais de Judá, porque de ti sairá um chefe que apascentará meu povo Israel”. 7Herodes chamou, então, secretamente os magos e informou-se com eles cuidadosamente sobre o tempo exato em que a estrela tinha aparecido. 8Depois, mandou-os a Belém e disse: “Ide e investigai bem sobre o menino e, quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também possa ir adorá-lo”. 9Tendo ouvido o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10Quando viram a estrela, encheram-se de grande alegria. 11Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe; e, prostrando-se, o adoraram. Abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes, ouro, incenso e mirra. 12Depois, avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para sua terra por outro caminho.

O Messias foge para o Egito. 13Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes vai procurar o menino para o matar”. 14José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e partiu de noite para o Egito. 15E ali ficou até a morte de Herodes, a fim de que se cumprisse o que o Senhor falou pelo Profeta: Do Egito chamei meu filho.

Matança dos inocentes. 16Quando Herodes viu que tinha sido enganado pelos magos, ficou furioso e mandou matar em Belém e arredores todos os meninos de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado com os magos. 17Cumpriu-se assim o que foi dito pelo profeta Jeremias: 18Ouviu-se uma voz em Ramá, muito choro e gemido: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque já não existem.

O Messias é nazareno. 19Quando Herodes morreu, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José no Egito 20e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, pois já morreram os que procuravam matar o menino”. 21José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. 22Mas, tendo ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Avisado em sonho, retirou-se para a região da Galileia. 23Foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos Profetas: Será chamado nazareno.

II. O MESSIAS SE APRESENTA E PROMULGA A NOVA LEI

3 Pregação de João Batista. 1Naqueles dias apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia: 2“Convertei-vos porque está próximo o reino dos céus”. 3Pois este é aquele de quem falou o profeta Isaías: Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas estradas. 4João usava uma veste de pelos de camelo e um cinto de couro na cintura. Sua comida eram gafanhotos e mel silvestre. 5Vinha procurá-lo gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do rio Jordão. 6Confessavam seus pecados e por ele eram batizados no Jordão. 7Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus vinham para o batismo, João lhes disse: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vem? 8Produzi, pois, frutos de verdadeira conversão 9e não vos façais ilusões, dizendo a vós mesmos: Temos Abraão por pai. Pois eu vos digo: Deus pode fazer nascer destas pedras filhos de Abraão. 10O machado já está posto sobre a raiz das árvores; toda árvore, que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo. 11Eu vos batizo com água em sinal de conversão. Depois de mim, porém, virá outro mais forte do que eu, de quem não sou digno de carregar as sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 12Com a peneira na mão limpará seu terreiro e recolherá o trigo ao celeiro, mas queimará a palha num fogo que não se apaga”.

Batismo de Jesus. 13Jesus veio da Galileia ao rio Jordão até João, para ser batizado por ele. 14João, porém, se opunha, dizendo: “Eu é que devo ser batizado por ti e tu vens a mim?” 15Jesus respondeu: “Deixa agora, pois convém que assim cumpramos toda a justiça”. Então João concordou. 16Depois de batizado, Jesus saiu logo da água. Nisso, os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre ele. 17E do céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, de quem eu me agrado”.

4 Jesus vence a tentação. 1Em seguida, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. 2Jejuou quarenta dias e quarenta noites, e depois teve fome. 3Aproximou-se, então, o tentador e lhe disse: “Se és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão”. 4Mas Jesus respondeu: “Está escrito: Não é só de pão que vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. 5O diabo o levou, então, para a Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do Templo 6e lhe falou: “Se és filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Porque está escrito: A teu respeito ordenou a seus anjos e eles te carregarão nas mãos, para não tropeçares em alguma pedra”. 7Jesus lhe disse: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus”. 😯 diabo o levou ainda a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo com sua glória 9e lhe disse: “Tudo isso te darei se, caindo por terra, me adorares”. 10Jesus então lhe falou: “Afasta-te, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás”. 11Então o diabo o deixou e anjos se aproximaram para servi-lo.

Início da ação messiânica. 12Ouvindo que João fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. 13Deixando Nazaré, veio morar em Cafarnaum s à beira-mar, nos limites de Zabulon e Neftali, 14para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: 15Terra de Zabulon e terra de Neftali, caminho do mar, região da Transjordânia, Galileia dos pagãos! 16O povo que estava nas trevas viu uma grande luz e para os que moravam na região escura da morte, levantou-se uma luz. 17Desde então Jesus começou a pregar e a dizer: “Convertei-vos, pois o reino dos céus está próximo”.

A vocação dos primeiros discípulos. 18Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus lhes disse: “Vinde comigo, e eu farei de vós pescadores de gente”. 20Deixando imediatamente as redes, eles o seguiram. 21Indo mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Juntamente com seu pai Zebedeu, consertavam as redes no barco. Jesus os chamou. 22Eles prontamente deixaram o barco e o pai, e o seguiram.

Jesus atrai multidões. 23Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda doença e enfermidade do povo. 24Sua fama chegou à Síria inteira. Traziam-lhe, por isso, todos os que sofriam de algum mal, os atacados de diversas doenças e sofrimentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos; e ele os curava. 25Grandes multidões o seguiam da Galileia e da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e da Transjordânia.

5 As bem-aventuranças. 1Ao ver aquela multidão de povo, Jesus subiu ao monte. Quando sentou-se, os discípulos se aproximaram dele. 2Tomou a palavra e começou a ensinar: 3“Felizes os que têm espírito de pobre, porque deles é o reino dos céus. 4Felizes os que choram, porque serão consolados. 5Felizes os mansos, porque possuirão a terra. 6Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. 9Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, por minha causa, disserem todo tipo de calúnia contra vós. 12Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus. Foi assim que perseguiram os profetas antes de vós”.

A missão cristã no mundo. 13Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perder o gosto salgado, com o que se há de salgar? Já não servirá para nada, apenas para ser jogado fora e pisado pelas pessoas. 14Vós sois a luz do mundo. Não é possível esconder uma cidade situada sobre um monte, 15nem se acende uma lamparina para se pôr debaixo de uma vasilha, mas num candelabro, para que ilumine todos os da casa. 16É assim que deve brilhar vossa luz diante das pessoas, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.

Jesus aperfeiçoa a Lei. 17Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir, mas completar. 18E eu vos garanto: enquanto não passar o céu e a terra, não passará um i ou um pontinho da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Quem, pois, violar um desses preceitos, por menor que seja, e ensinar aos outros o mesmo, será chamado o menor no reino dos céus; mas quem os praticar e ensinar, será chamado grande no reino dos céus. 20Pois eu vos digo: se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus.

A radicalização da Nova Lei. 21Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; quem matar será réu de julgamento. 22Pois eu vos digo: quem se encolerizar contra seu irmão será réu de julgamento. Quem chamar seu irmão de patife será réu perante o Sinédrio, e quem o chamar de tolo será réu do inferno de fogo. 23Portanto, se estiveres diante do altar para apresentar tua oferta e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa tua oferta lá diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e então volta para apresentar tua oferta. 25Entra logo em acordo com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho do tribunal, para que ele não te entregue ao juiz, e o juiz ao oficial de justiça, e sejas posto na cadeia. 26E eu te garanto que não sairás dali até que tenhas pago o último centavo.

Adultério e divórcio. 27Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. 28Pois eu vos digo: Todo aquele que lançar um olhar de cobiça sobre uma mulher, já cometeu adultério em seu coração. 29Se teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e joga longe de ti, pois é preferível perder um dos teus membros do que teu corpo inteiro ser lançado no inferno. 30E se tua mão direita te leva a pecar, corta-a e joga longe de ti, pois é preferível perder um dos teus membros do que teu corpo inteiro ser lançado no inferno. 31Também foi dito: Quem repudiar sua mulher, dê-lhe certidão de divórcio. 32Pois eu vos digo: Todo aquele que se divorciar de sua mulher – exceto em caso de ‘prostituição’ – a faz cometer adultério; e quem se casar com ela comete adultério.

Veracidade e generosidade. 33Ouvistes ainda que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás junto ao Senhor os teus juramentos. 34Pois eu vos digo: Não jureis de maneira alguma, nem pelo céu, pois é o trono de Deus; 35nem pela terra, pois é o suporte de seus pés; nem por Jerusalém, pois é a cidade do grande rei. 36Nem tampouco jures por tua cabeça, pois não poderás tornar branco ou preto nenhum de teus cabelos. 37Seja a vossa palavra sim, se for sim; não, se for não. Tudo o que passar disso vem do Maligno. 38Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. 39Pois eu vos digo: Não resistais ao malvado. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. 40E se alguém quiser te processar para tirar-te a túnica, deixa-lhe também o manto. 41Se alguém te obrigar a carregar-lhe a mochila por um quilômetro, leva-a por dois. 42Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja um empréstimo.

Amor aos inimigos. 43Ouvistes que foi dito: Amarás teu próximo e odiarás teu inimigo. 44Pois eu vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, 45para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus. Porque ele faz nascer o sol para bons e maus, e chover sobre justos e injustos. 46Pois se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não o fazem também os cobradores de impostos? 47E se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.

6 Esmola e oração. 1Evitai praticar as vossas boas obras diante dos outros para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis nenhuma recompensa do Pai que está nos céus. 2Quando, pois, deres esmola, não vás tocando trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. 3Mas, quando deres esmola, não saiba a mão esquerda o que faz a direita. 4Assim a tua esmola se fará no oculto e teu Pai, que vê no oculto, te dará o prêmio. 5E quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças para serem vistos pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. 6Mas, quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai que está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. 7E nas orações não faleis muitas palavras, como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras. 8Não os imiteis, pois o Pai já sabe de vossas necessidades antes mesmo de pedirdes.

O modelo da oração. 9Portanto, é assim que haveis de rezar: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino, seja feita a tua vontade assim na terra, como no céu. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, 12perdoa-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam, 13e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14Porque, se perdoardes as ofensas dos outros, vosso Pai celeste também vos perdoará. 15Mas, se não perdoardes aos outros, vosso Pai também não vos perdoará as ofensas.

A sinceridade no jejum. 16Quando jejuardes, não fiqueis tristes como os hipócritas que desfiguram o rosto, para os outros verem que estão jejuando. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. 17Mas quando jejuares, lava o rosto e põe perfume na cabeça, 18para os outros não perceberem que estás jejuando, mas somente teu Pai que está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa.

Buscar a verdadeira riqueza. 19Não ajunteis riquezas na terra, onde a traça e a ferrugem as corroem, e os ladrões assaltam e roubam. 20Ajuntai riquezas no céu, onde nem traça nem ferrugem as corroem, onde os ladrões não arrombam nem roubam. 21Pois onde estiver vosso tesouro, aí também estará o coração. 22O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho for sadio, todo o corpo ficará iluminado. 23Mas se teu olho estiver doente, todo o corpo ficará na escuridão. Pois, se a luz que está em ti for escuridão, como não será a escuridão? 24Ninguém pode servir a dois senhores. Pois ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e abandonará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. 25Por isso vos digo: Não vos preocupeis com vossa vida, com o que comereis, nem com o corpo, com o que vestireis. Não será a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes? 26Olhai os pássaros do céu: não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros, mas o Pai celeste os alimenta. E vós não valeis muito mais do que eles? 27Quem de vós, com suas preocupações, pode aumentar a duração de sua vida de um momento sequer? 28E por que vos preocupais com as vestes? Observai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam. 29Mas eu vos digo que nem Salomão com toda a sua glória se vestiu como um deles. 30Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, gente de pouca fé! 31Por isso não vos preocupeis, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? Com que nos vamos vestir?’ 32São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. 33Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas de acréscimo. 34Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias dificuldades. A cada dia basta o seu peso.

7 Julgar e ser julgado. 1Não julgueis e não sereis julgados. 2Pois como julgardes os outros, sereis também julgados; e a medida com que medirdes será usada para medir-vos. 3Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não vês a trave no teu? 4Como ousas dizer ao teu irmão: ‘deixa-me tirar o cisco de teu olho’, quando tu próprio tens uma trave no teu? 5Hipócrita! Retira primeiro a trave do teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. 6Não deis o que é santo aos cães nem jogueis vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que estes as calquem com suas patas e aqueles, voltando-se contra vós, vos dilacerem.

A confiança na oração. 7Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos abrirão. 8Pois quem pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, se abre. 9Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho que pede um pão? 10Ou lhe dará uma cobra, se ele pedir um peixe? 11Se, pois, vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que pedirem.

Regra de ação. 12Tudo que desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. Pois esta é a Lei e os Profetas. 13Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que por ele entram. 14Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!

Os falsos profetas. 15Cuidado com os falsos profetas! Eles vêm a vós disfarçados com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. 16Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas de espinhos, ou figos de urtigas? 17Assim, pois, toda árvore boa dá fruto bom e a árvore doente dá fruto ruim. 18Não pode a árvore boa dar fruto ruim nem a árvore doente dar fruto bom. 19Toda árvore, que não der fruto bom, é cortada e lançada ao fogo. 20É pelos frutos que os conhecereis.

A vontade do Pai. 21Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas quem fizer a vontade de meu Pai que está nos céus. 22Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em teu nome, não fizemos muitos milagres em teu nome?’ 23Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal.

Os dois fundamentos. 24Portanto, todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as põe em prática, será como um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra a casa, mas ela não desabou. Estava fundada na rocha. 26Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será como um homem tolo que construiu sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela desabou. E grande foi sua ruína”. 28Ao terminar Jesus estes discursos, a multidão do povo se admirava de sua doutrina, 29pois ele os ensinava como quem possui autoridade e não como os escribas.

III. JESUS E OS APÓSTOLOS ANUNCIAM O REINO DE DEUS

8 A cura de um leproso. 1Quando Jesus desceu do monte, seguiram com ele multidões de povo. 2De repente, aproximou-se um leproso, prostrou-se diante dele e disse: “Senhor, se quiseres, podes limpar-me”. 3Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante ficou limpo da lepra. 4Jesus então lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém. Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferenda prescrita por Moisés, como prova de tua cura para eles”.

A fé do oficial romano. 5Quando Jesus entrou em Cafarnaum, aproximou-se dele um oficial romano, suplicando: 6“Senhor, meu criado está de cama em minha casa, ficou paralítico e sofre horrivelmente”. 7Jesus lhe disse: “Eu vou lá curá-lo”. 8 O oficial respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entres sob meu teto, mas dize uma só palavra e meu criado ficará bom. 9Pois também eu sou um subordinado e tenho soldados sob meu comando. Digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu escravo: Faze isto, e ele faz”. 10Jesus ouviu e, admirado, disse aos que o seguiam: “Eu vos garanto: em ninguém de Israel encontrei tanta fé. 11Digo-vos pois: Muitos virão do Oriente e do Ocidente sentar-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacó no reino dos céus, 12enquanto os filhos do Reino serão lançados fora, na escuridão; ali haverá choro e ranger de dentes”. 13E Jesus disse ao oficial: “Vai, e seja feito conforme acreditaste”. E naquela mesma hora o criado ficou curado.

Outras curas. 14Ao chegar à casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele estava de cama, com febre. 15Tomou-lhe a mão e a febre a deixou. Ela se levantou e começou a servi-lo. 16Ao anoitecer, trouxeram-lhe muitos endemoninhados. Ele expulsou os espíritos com a palavra e curou todos que sofriam de algum mal, 17para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo profeta Isaías: Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças.

A renúncia total do discípulo. 18Ao ver grandes multidões ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem do lago. 19Então um escriba se aproximou e lhe disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que fores”. 20E Jesus lhe disse: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. 21E outro de seus discípulos lhe disse: “Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai”. 22Jesus, porém, lhe respondeu: “Segue-me e deixa que os mortos enterrem os seus mortos”.

Jesus acalma a tempestade. 23Jesus entrou no barco e os discípulos o seguiram. 24De repente uma grande tempestade se levantou no mar, a ponto de o barco desaparecer entre as ondas. Jesus, porém, dormia. 25Os discípulos foram acordá-lo, dizendo: “Senhor, salva-nos! Vamos morrer”! 26Ele respondeu-lhes: “Por que este medo, homens de pouca fé?” Em seguida levantou-se, repreendeu os ventos e o mar, e se fez grande calma. 27Os homens se admiraram dizendo: “Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem?”

Jesus expulsa demônios. 28Quando ele chegou à outra margem, à terra dos gadarenos, dois possessos saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Eram tão furiosos que ninguém ousava passar por ali. 29Eles puseram-se a gritar: “O que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste até aqui para atormentar-nos antes do tempo?” 30Não longe havia uma grande vara de porcos pastando, e 31os demônios lhe suplicavam: “Se nos expulsares, manda-nos para aquela vara de porcos”. 32Ele lhes disse: “Ide”. Eles saíram e foram para os porcos; e toda a vara precipitou-se barranco abaixo, dentro do mar, e se afogou. 33Os pastores fugiram e foram contar tudo na cidade, inclusive o que acontecera com os endemoninhados. 34Então toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e pediram-lhe que se retirasse de sua região.

9 Jesus perdoa os pecados. 1Jesus entrou num barco, fez a travessia e chegou à sua cidade. 2Apresentaram-lhe um paralítico, deitado numa cama. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados”. 3Alguns escribas, porém, começaram a se dizer: “Este homem blasfema”. 4Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus disse: “Por que estais pensando coisas más em vossos corações? 5O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’ ou dizer: ‘levanta-te e anda’? 6Pois bem, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar os pecados – disse então ao paralítico: Levanta-te, pega o teu leito e vai para casa”. 7Ele levantou-se e foi para sua casa. 8Vendo isso, a multidão ficou com medo e deu glória a Deus por haver dado tal poder aos homens.

A vocação de Mateus. 9Partindo dali, Jesus viu um homem de nome Mateus, sentado junto ao balcão da coletoria e lhe disse: “Segue-me”. O homem levantou-se e o seguiu. 10E aconteceu que, enquanto estava em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e se assentaram com Jesus e os discípulos. 11Vendo isso, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que vosso mestre come junto com cobradores de impostos e pecadores?” 12E ele, que os ouvira, respondeu-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, e sim os enfermos. 13Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios. Porque não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.

A questão do jejum. 14Então se aproximaram os discípulos de João e lhe perguntaram: “Por que nós e os fariseus jejuamos com frequência e teus discípulos não jejuam?” 15Jesus lhes respondeu: “Por acaso os amigos do noivo podem ficar tristes enquanto o noivo estiver com eles? Mas virão os dias em que o noivo lhes será tirado. Então, naqueles dias, jejuarão. 16Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão fica pior. 17Tampouco se coloca vinho novo em odres velhos. Do contrário, rompem-se os odres, o vinho escorre e os odres se perdem. Mas coloca-se o vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam”.

A fé é recompensada. 18Enquanto assim lhes falava, aproximou-se um chefe de sinagoga e, prostrado diante dele, disse-lhe: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, põe tua mão sobre ela e viverá”. 19Jesus se levantou e o seguiu com os discípulos. 20Nisso, uma mulher, que há doze anos sofria de hemorragia, achegou-se por trás e lhe tocou a borda do manto. 21Pois ela pensava: Se eu ao menos tocar o manto dele, ficarei curada. 22Jesus virou-se e, vendo-a, disse: “Filha, tem confiança, a tua fé te curou”. E naquele momento a mulher ficou curada. 23Quando Jesus chegou à casa do chefe da sinagoga, viu os flautistas e a multidão em rebuliço, 24e disse: “Retirai-vos, pois a menina não está morta. Ela está dormindo”. Eles riam-se dele. 25Depois de fazer sair a multidão, Jesus entrou, tomou a mão da menina e ela se levantou. 26E a notícia espalhou-se por toda aquela terra.

Cura da cegueira pela fé. 27Ao sair Jesus dali, dois cegos o seguiam gritando: “Filho de Davi, tem piedade de nós!” 28Quando entrou em casa, os cegos se aproximaram, e Jesus lhes disse: “Credes que eu posso fazer isso?” Eles responderam: “Sim, Senhor”. 29Então Jesus tocou os olhos deles, enquanto dizia: “Que vos seja feito conforme a vossa fé”. 30E os olhos deles se abriram. Em tom severo ele os avisou: “Cuidai que ninguém o saiba”. 31Mas, saindo dali, eles espalharam sua fama por toda a região.

O mudo endemoninhado. 32Tendo saído os dois cegos, apresentaram a Jesus um mudo endemoninhado. 33Ele expulsou o demônio, e o mudo começou a falar. O povo, admirado, dizia: “Nunca se viu isso em Israel”. 34Os fariseus, porém, diziam: “É pelo poder do chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”.

Necessidade de operários. 35Jesus percorria todas as cidades e aldeias ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda enfermidade e doença. 36Vendo o povo, sentiu compaixão dele porque estava cansado e abatido, como ovelhas sem pastor. 37Então disse a seus discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Pedi, pois, ao dono da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita”.

10 Jesus escolhe os apóstolos. 1Jesus convocou os doze discípulos e deu-lhes poder sobre os espíritos impuros para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e doença. 2Os nomes dos doze apóstolos são os seguintes: o primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago filho de Zebedeu, e João, seu irmão; 3Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão o Zelotes e Judas Iscariotes, que o traiu.

A missão dos Doze. 5Estes doze Jesus os enviou, com estas recomendações: “Não sigais pelos caminhos dos pagãos nem entreis em cidade de samaritanos. 6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7Pelo caminho, proclamai que está próximo o reino dos céus. 8Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, dai de graça! 9Não leveis no cinto moedas de ouro, nem de prata, nem de cobre; 10nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário é digno de seu sustento. 11Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, informai-vos sobre quem nela é digno, e ficai com ele até irdes embora. 12Entrando numa casa, saudai os que nela moram. 13Se forem dignos, desça sobre eles vossa paz; se não forem dignos, retorne para vós a paz. 14Se alguém não vos receber ou não ouvir vossas palavras, sacudi a poeira dos vossos pés ao sairdes daquela casa ou daquela cidade. 15Eu vos garanto que no dia do juízo a terra de Sodoma e Gomorra será tratada com menos rigor do que aquela cidade. 16Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas.

Quando vos perseguirem. 17Cuidado com os homens. Eles vos entregarão aos tribunais e vos torturarão nas suas sinagogas. 18Sereis levados diante dos governadores e dos reis por minha causa; assim dareis testemunho para eles e os pagãos. 19Quando vos entregarem, não vos preocupeis em saber como ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será inspirado o que deveis dizer. 20Não sereis vós que falareis, e sim o Espírito do Pai que falará por vós. 21O irmão entregará à morte o irmão; o pai entregará o filho. Os filhos se levantarão contra os pais e os matarão. 22Todos vos odiarão por causa de meu nome. Mas quem perseverar até o fim será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Eu vos garanto que não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem. 24O discípulo não está acima do mestre, nem o escravo acima do patrão. 25Ao discípulo basta ser como o mestre e ao escravo como o patrão. Se ao chefe da família chamaram de Belzebu, quanto mais aos seus familiares. Não temais! 26Portanto, não tenhais medo deles; porque não há nada encoberto que não venha a ser revelado, nem escondido que não venha a ser conhecido. 27Dizei à luz do dia o que vos digo na escuridão, e proclamai de cima dos telhados o que vos digo ao pé do ouvido. 28Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Deveis ter medo daquele que pode fazer perder-se a alma e o corpo no inferno. 29Não se vendem dois pardais por uma moedinha de cobre? E nenhum deles cai por terra sem a vontade do vosso Pai. 30Quanto a vós, até mesmo os cabelos todos da cabeça estão contados. 31Portanto, não tenhais medo. Valeis mais do que muitos pardais. 32Todo aquele, pois, que der testemunho de mim diante dos outros, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus. 33Mas todo aquele que me negar diante dos outros, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.

Pró ou contra Cristo. 34Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer a paz, e sim a espada. 35Pois vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. 36Os inimigos da gente serão os próprios parentes. 37Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim. 38E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. 39Quem procura a sua vida, há de perdê-la; e quem perde a sua vida por amor de mim, há de encontrá-la.

Acolhida e prêmio. 40Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá recompensa de justo. 42E quem der de beber a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, ainda que seja um copo de água fresca, eu vos garanto que não perderá sua recompensa.

11 1Ao terminar as instruções aos doze discípulos, Jesus partiu dali e foi ensinar e pregar nas cidades deles.

IV. O MESSIAS REJEITADO POR UNS E ACOLHIDO POR OUTROS 

Jesus realiza obras messiânicas. 2No cárcere João ouviu falar das obras de Cristo e lhe enviou seus discípulos 3para lhe perguntarem: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” 4Jesus lhes respondeu: “Ide anunciar a João o que ouvis e vedes: 5os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6Feliz é aquele que não se escandalizar de mim”.

O Messias e o Precursor. 7Quando eles foram embora, Jesus começou a falar de João ao povo: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8Mas, então, o que fostes ver? Um homem bem vestido? Ora, aqueles que se vestem bem estão nos palácios dos reis. 9Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta. 10Este é de quem está escrito: Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. 11Eu vos garanto que dentre os nascidos de mulher ninguém é maior do que João Batista. Mas o menor no reino dos céus é maior do que ele. 12Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre violência e os violentos são os que o conquistam. 13Pois todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. 14E se quiserdes aceitar, ele é o Elias que há de vir. 15Quem tiver ouvidos, que ouça. 16Com quem hei de comparar a geração de hoje? Parecem meninos que ficam sentados nas praças gritando uns para os outros: 17‘Tocamos para vós a flauta e não dançastes, cantamos lamentações e não batestes no peito’. 18Pois veio João, que não comia nem bebia e, e dizem: ‘Está possuído do demônio’. 19Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizem: ‘Olhem! Um comilão e um beberrão de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores’. E no entanto a Sabedoria é reconhecida como justa por suas obras”.

Ai das cidades incrédulas. 20Então começou a censurar as cidades em que se realizou a maioria de seus milagres, por não se terem convertido: 21“Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Pois, se em Tiro e Sidônia houvessem sido feitos os milagres que foram feitos no meio de vós, há muito estariam vestidas de luto e cobertas de cinza, em sinal de conversão. 22Digo-vos, pois: No dia do juízo, Tiro e Sidônia serão tratadas com menos rigor do que vós. 23E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não, até ao inferno serás precipitada! Porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que no meio de ti foram feitos, até hoje ela existiria. 24Digo-vos, pois: No dia do juízo, a terra de Sodoma será tratada com menos rigor do que tu”.

Vinde a mim e vos aliviarei. 25Naquela ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28Vinde a mim vós todos, que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. 30Pois meu jugo é suave e meu peso é leve”.

12 O Senhor do sábado. 1Certa ocasião, Jesus estava andando por entre as plantações de trigo, num dia de sábado. Com fome, seus discípulos começaram a arrancar espigas e a comê-las. 2Vendo isso, os fariseus lhe disseram: “Olha! Teus discípulos fazem o que não é permitido fazer no sábado”. 3Ele, porém, lhes disse: “Não lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que o acompanhavam? 4Como entrou na casa de Deus e comeu os pães sagrados que nem a ele, nem aos que estavam com ele era permitido comer, mas só aos sacerdotes? 5Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes em serviço no Templo violam o sábado sem se fazerem culpados? 6Pois eu vos digo: quem está aqui é maior do que o Templo. 7Se compreendêsseis o que significa: Quero misericórdia e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes. 8Porque o Filho do homem é senhor do sábado”.

Cura no sábado. 9Jesus saiu dali e foi à sinagoga deles. 10Estava ali um homem com uma das mãos paralisada. Para poderem acusá-lo, fizeram-lhe a seguinte pergunta: “É permitido curar no sábado?” 11Ele, porém, lhes disse: “Quem de vós, tendo uma ovelha, e caindo ela num poço em dia de sábado, não irá pegá-la e retirá-la de lá? 12Ora, uma pessoa vale muito mais do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado”. 13Então disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e ficou sã como a outra. 14Os fariseus se retiraram e se reuniram em conselho contra ele, para matá-lo.

O Servo eleito de Deus. 15Ao saber disso, Jesus afastou-se dali. Muitos o seguiram e ele os curou a todos. 16Mas proibiu-lhes severamente que o dessem a conhecer, 17para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: 18Este é o meu servo, que escolhi; meu bem-amado, de quem minha alma se afeiçoou. Farei repousar sobre ele meu Espírito, e ele anunciará o direito às nações. 19Não discutirá nem gritará, nem se ouvirá sua voz nas praças públicas. 20Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até fazer triunfar o direito. 21Em seu nome as nações depositarão sua esperança.

Jesus e Belzebu. 22Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo, e ele o curou, de sorte que ele falava e enxergava. 23A multidão admirada dizia: “Não será ele o Filho de Davi?” 24Mas, ao ouvirem isto, os fariseus disseram: “É pelo poder de Belzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. 25Conhecendo os seus pensamentos, Jesus lhes disse: “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína. Nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá manter-se. 26Se satanás expulsa satanás, está dividido contra si mesmo, como então se manterá o seu reino? 27Se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. 28Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o reino de Deus chegou até vós. 29Como poderá alguém entrar na casa de um homem forte e roubar os seus bens, se antes não o tiver amarrado? Só então poderá saquear a sua casa. 30Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha. 31Por isso eu vos digo: As pessoas serão perdoadas por todo pecado e blasfêmia. Só não lhes será perdoada a blasfêmia contra o Espírito Santo. 32Se alguém disser uma palavra contra o Filho do homem, será perdoado. Mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não será perdoado nem neste mundo, nem no futuro.

Cada árvore com seus frutos. 33Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto bom, ou dizeis que a árvore é doente e o seu fruto ruim, pois é pelo fruto que se conhece a árvore. 34Raça de víboras! Como podeis dizer coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. 35A pessoa boa tira coisas boas de seu bom tesouro, mas a pessoa má tira coisas más de seu mau tesouro. 36E eu vos digo que, no dia do juízo, cada um deverá prestar contas de qualquer palavra inútil que tiver falado. 37É por tuas palavras que serás inocentado ou condenado”.

O sinal de Jonas. 38Então, alguns escribas e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, queríamos ver-te fazer um sinal”. 39Mas ele respondeu-lhes: “Esta gente perversa e adúltera pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal senão o do profeta Jonas. 40Assim como Jonas esteve no ventre da baleia três dias e três noites, assim também o Filho do homem ficará três dias e três noites no seio da terra. 41No dia do juízo, os ninivitas vão levantar-se contra esta geração e condená-la. É que eles se converteram com a pregação de Jonas, e aqui está alguém maior do que Jonas. 42No dia do juízo, a rainha do Sul vai levantar-se contra esta geração e a condenará. Porque ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está alguém maior do que Salomão.

O mal assedia sempre. 43Quando um espírito impuro sai de uma pessoa, anda por lugares áridos, em busca de repouso. Não o achando, 44diz: ‘Voltarei para minha casa, de onde saí’. Quando chega, encontra a casa vazia, varrida e arrumada. 45Vai então e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. Eles entram e se instalam ali. E a última situação daquela pessoa se torna pior do que a primeira. É o que acontecerá com esta geração perversa”.

A verdadeira família de Jesus. 46Enquanto Jesus ainda falava ao povo, sua mãe e seus irmãos, do lado de fora, tentavam falar com ele. 47Então alguém lhe disse: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, querendo falar contigo”. 48Jesus, porém, perguntou a quem lhe deu o recado: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” 49E, estendendo a mão sobre os discípulos, disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. 50Pois quem fizer a vontade do meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

13 Parábola do semeador. 1Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se junto ao mar. 2Reuniu-se em volta dele tanta gente, que ele teve de entrar num barco para sentar-se, enquanto a multidão ficou na praia. 3Falou-lhes então muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu a semear. 4Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho. Vieram os pássaros e a comeram. 5Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra, e logo germinou porque a terra não era profunda. 6Mas, quando o sol se levantou, ficou queimada e, como não tinha raízes, secou. 7Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram e a sufocaram. 8Outra parte caiu em terra boa e deu frutos, uma cem, outra sessenta, outra trinta. 9Quem tiver ouvidos, que ouça”.

Razão das parábolas. 10Os discípulos aproximaram-se e lhe perguntaram: “Por que lhes falas em parábolas?” 11Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não. 12A quem tem será dado, e terá em abundância; mas de quem não tem será tirado até mesmo o que tem. 13É por isso que lhes falo em parábolas: porque, olhando, não enxergam e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. 14Neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvireis com os ouvidos e não compreendereis, olhareis com os olhos e não enxergareis, 15porque o coração deste povo se endureceu, ouviram mal com os ouvidos e taparam os olhos, para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração e se convertam, e assim eu os cure. 16Mas vossos olhos são felizes porque veem, e vossos ouvidos, porque ouvem! 17Pois eu vos digo: Muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram.

Explicação da parábola. 18Ouvi, portanto, a parábola do semeador. 19Quando alguém ouve a palavra do Reino e não a entende, chega o maligno e arranca o que lhe foi semeado no coração: é o que foi semeado junto ao caminho. 20O que foi semeado em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; 21mas não tem raízes; é inconstante: surgindo uma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo fraqueja. 22O que foi semeado entre espinhos representa quem ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e tornam estéril. 23O que foi semeado em terra boa é quem ouve a palavra e a entende e dá frutos: uns cem, outros sessenta, outros trinta”.

A parábola do joio. 24Jesus lhes propôs outra parábola: “O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo. 25Mas, enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou uma erva daninha, chamada joio, entre o trigo e foi embora. 26Quando o trigo germinou e fez a espiga, apareceu também o joio. 27Então os escravos do proprietário foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste semente boa em teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 28Ele respondeu: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Os escravos lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancá-lo?’ 29Ele respondeu: ‘Não, para que não aconteça que, ao arrancar o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai que os dois cresçam juntos até à colheita. No tempo da colheita direi aos que cortam o trigo: colhei primeiro o joio e atai-o em feixes para queimar; depois, recolhei o trigo no meu celeiro’”.

A mostarda e o fermento. 31Ele lhes propôs outra parábola: “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem toma e semeia em sua terra. 32É a menor de todas as sementes. Mas, quando cresce, é a maior das hortaliças e torna-se uma árvore, de modo que em seus ramos os passarinhos vêm fazer ninhos”. 33Contou-lhes outra parábola: “O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher pegou e misturou com três medidas de farinha, e tudo ficou fermentado”.

Jesus ensina em parábolas. 34Tudo isso Jesus falou à multidão em parábolas e nada lhes falava sem parábolas, 35para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Começarei a falar em parábolas, e anunciarei as coisas ocultas desde a criação do mundo.

Explicação da parábola do joio. 36Então Jesus deixou a multidão e foi para casa. Os discípulos se aproximaram dele e pediram: “Explica-nos a parábola do joio no campo”. 37Ele respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. 39O inimigo, que o semeia, é o diabo. A colheita é o fim do mundo. Os que fazem a colheita são os anjos. 40Como se recolhe o joio para ser queimado ao fogo, assim acontecerá no fim do mundo. 41O Filho do homem enviará os seus anjos e eles recolherão do Reino todos os escândalos e todos os promotores da iniquidade, 42e os jogarão na fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no reino do Pai. Quem tiver ouvidos, que ouça.

O tesouro e a pérola. 44O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Quem o encontra esconde-o de novo e, cheio de alegria, vai vender tudo o que tem e compra o campo. 45O reino dos céus é também semelhante a um comerciante à procura de boas pérolas. 46Achando uma preciosa, vende tudo o que tem e a compra.

Parábola da rede. 47O reino dos céus é também semelhante a uma rede de arrastão, que é lançada ao mar e recolhe peixe de toda espécie. 48Quando fica cheia, os pescadores arrastam-na para a praia, sentam-se, recolhem os peixes bons nos cestos e jogam fora os que não prestam. 49Assim será no fim do mundo: os anjos sairão para separar os maus do meio dos justos 50e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.

Conclusão e transição. 51Entendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52E Jesus lhes disse: “Por isso, todo escriba instruído na doutrina do reino dos céus é como o pai de família, que tira de seu baú coisas novas e velhas”. 53Ao terminar estas parábolas, Jesus partiu dali.

V. O REINO DOS CÉUS COMO IGREJA

Jesus na sua terra. 54Foi para sua terra e ensinava na sinagoga de maneira que, admiradas, as pessoas diziam: “De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? 55Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde, pois, lhe vem tudo isso?” 57E não queriam acreditar nele. Mas Jesus lhes disse: “Um profeta só é desprezado em sua terra e em sua própria casa”. 58E não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles.

14 Morte do Batista. 1Naquela mesma ocasião chegaram ao tetrarca Herodes notícias sobre Jesus. 2E ele disse aos seus servidores: “Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que nele age um poder milagroso”. 3É que Herodes tinha mandado prender João e metê-lo acorrentado na cadeia, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe. 4Com efeito, João lhe dizia: “Não te é permitido viver com ela”. 5Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo que o considerava profeta. 6No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos e agradou tanto a Herodes 7que ele prometeu, jurando, dar-lhe tudo quanto pedisse. 8E ela, instigada pela mãe, lhe disse: “Dá-me agora mesmo, numa bandeja, a cabeça de João Batista”. 9O rei ficou triste, mas, devido ao juramento e à presença dos convidados, ordenou que lhe dessem a cabeça. 10Mandou, pois, degolar João na cadeia. 11Sua cabeça foi trazida numa bandeja e dada à jovem, que a levou à sua mãe. 12Os discípulos de João vieram pegar o corpo e o sepultaram; depois, foram dar a notícia a Jesus. 13Ao saber disso, Jesus retirou-se dali, num barco, para um lugar deserto e afastado. Mas o povo soube e o seguiu das cidades a pé.

A multiplicação dos pães. 14Ao desembarcar, viu uma grande multidão de povo e, sentindo compaixão, curou os seus enfermos. 15Ao cair da tarde, aproximaram-se dele os discípulos e disseram: “O lugar aqui é deserto e já passou da hora. Despede o povo para que possa ir aos povoados comprar alimentos”. 16Mas Jesus lhes respondeu: “Não há necessidade de eles irem embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. 17Eles, porém, disseram: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes”. 18Ele falou: “Trazei-os para cá”. 19Mandou a multidão sentar-se na grama. Depois tomou os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos para o céu e rezou a bênção; partiu então os pães, deu-os aos discípulos, e estes à multidão. 20Todos comeram e ficaram saciados. E dos pedaços que sobraram recolheram doze cestos cheios. 21Os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.

Jesus confirma a fé de Pedro. 22Logo a seguir, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem na frente para a outra margem, enquanto ele despedia a multidão. 23Depois de despedir o povo, subiu sozinho ao monte para rezar. Ao anoitecer, lá estava ele só. 24O barco já se achava a alguns quilômetros da terra e era agitado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25Pelas três da madrugada, Jesus chegou, andando sobre o mar. 26Ao vê-lo caminhar sobre as águas, os discípulos ficaram com medo: “É um fantasma”, diziam, gritando de medo. 27Mas logo Jesus lhes falou: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!” 28Tomando a palavra, Pedro disse: “Senhor, se és tu, manda-me andar sobre as águas até junto de ti”. 29Ele disse: “Vem!” Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas ao encontro de Jesus. 30Mas, ao sentir a violência do vento, ficou com medo; começou a afundar e gritou: “Senhor, salva-me!” 31No mesmo instante Jesus estendeu a mão e o segurou, dizendo: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” 32E quando os dois entraram no barco, o vento se acalmou. 33Então, os do barco prostraram-se diante dele e disseram: “Verdadeiramente, tu és Filho de Deus”.

Outros milagres. 34Terminada a travessia, chegaram à região de Genesaré. 35Os homens do lugar o reconheceram e espalharam a notícia por todos os arredores. Trouxeram-lhe todos os enfermos. 36Pediam-lhe que os deixasse tocar ao menos na ponta de seu manto. E todos que o tocavam ficavam curados.

15 A tradição dos antigos. 1Então, alguns escribas e fariseus vieram de Jerusalém e se aproximaram de Jesus, dizendo: 2“Por que os teus discípulos desobedecem a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos quando comem pão”. 3Jesus replicou: “E vós, por que desobedeceis ao preceito de Deus por causa da vossa tradição? 4Pois Deus disse: Honra o pai e a mãe, e quem maldisser o pai ou a mãe seja morto. 5Mas vós dizeis: ‘Quem disser ao pai ou à mãe: ofereci a Deus aquilo com que poderia ajudar-te, 6esse não precisa cuidar de seu pai ou de sua mãe’; e assim anulastes a palavra de Deus por vossa tradição. 7Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, quando disse: 8Este povo me honra com os lábios mas o coração está longe de mim; 9em vão me prestam culto, ensinando doutrinas e preceitos humanos”. 10Depois Jesus chamou o povo e disse: “Ouvi e entendei: 11Não é o que entra pela boca que torna alguém impuro, mas o que sai da boca, isso é que o torna impuro”. 12Então os discípulos se aproximaram dele e disseram: “Sabes que os fariseus ficaram chocados quando ouviram estas palavras?” 13Ele respondeu: “Toda planta, que o Pai celeste não plantou, será arrancada. 14Deixai-os. São guias cegos. Se um cego guia outro cego, os dois caem no buraco”. 15Pedro tomou a palavra e disse: “Explica-nos essa parábola”. 16Ele respondeu: “Também vós ainda não compreendeis? 17Não sabeis que o que entra pela boca desce ao estômago e é evacuado para o esgoto? 18Mas o que sai da boca provém do coração, e isso torna a pessoa impura. 19Porque do coração provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, a prostituição, os roubos, os falsos testemunhos, as calúnias. 20É isso o que torna alguém impuro. Mas comer sem lavar as mãos, isso não torna ninguém impuro”.

A fé da cananeia. 21Jesus saiu dali e retirou-se para os arredores das cidades de Tiro e Sidônia. 22De repente, uma mulher cananeia, que vinha daquela região, começou a gritar: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está sendo terrivelmente atormentada pelo demônio”. 23Mas ele não lhe respondia nenhuma palavra. Os discípulos se aproximaram e lhe pediram: “Manda-a embora, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24Jesus respondeu: “Não fui enviado senão para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25Mas ela veio, prostrou-se diante dele e disse: “Senhor, socorro!” 26E ele respondeu: “Não fica bem tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. 27Ela porém disse: “Certamente, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos”. 28Então Jesus lhe falou: “ Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito como desejas”. E desde aquela hora sua filha ficou curada.

Jesus cura os que sofrem. 29Jesus saiu dali e voltou para junto do mar da Galileia. Subiu a um monte e ficou ali sentado. 30Uma multidão veio até ele, trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros, e os estenderam a seus pés. E ele os curou. 31O povo se admirava ao ver que os mudos falavam, os aleijados saravam, os coxos andavam e os cegos viam. E glorificavam o Deus de Israel. 32Jesus chamou os discípulos e disse: “Estou com pena do povo porque há três dias estão comigo e não têm o que comer. Não quero despedi-los em jejum para que não desmaiem pelo caminho”. 33Os discípulos lhe perguntaram: “Onde vamos conseguir, num lugar desabitado, tantos pães para saciar tanta gente?” 34Jesus lhes perguntou: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete e alguns peixinhos”. 35Então mandou o povo assentar-se no chão, 36tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e deu aos discípulos, e estes os distribuíram à multidão. 37Todos comeram e ficaram saciados; e dos pedaços que sobraram recolheram sete cestos cheios. 38Os que comeram eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. 39Depois de despedir a multidão, Jesus entrou no barco e foi à região de Magadã.

16 Um sinal para incrédulos. 1Os fariseus e saduceus vieram até Jesus e, para testá-lo, pediram que lhes desse um sinal do céu. 2Jesus lhes respondeu: “Ao cair da tarde dizeis: ‘Vai fazer bom tempo, pois o céu está avermelhado’. 3E pela manhã: ‘Hoje vai trovejar, pois o céu está vermelho-escuro’. Sabeis distinguir o aspecto do céu, mas não sabeis distinguir os sinais dos tempos. 4Esta gente perversa e adúltera pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas”. E deixando-os, foi embora.

O fermento dos fariseus. 5Na travessia para a outra margem do lago, os discípulos se haviam esquecido de levar pão. 6Jesus lhes disse: “Abri os olhos e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus”. 7Os discípulos discutiam entre si: “É porque não trouxemos pão”. 8Jesus percebeu isso e disse: “Por que discutis entre vós, homens de pouca fé, por não terdes trazido pão? 9Ainda não entendeis, nem mesmo vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil homens, e de quantos cestos recolhestes? 10Nem dos sete pães para os quatro mil homens, e de quantos cestos recolhestes? 11Como então não entendeis que eu não estava falando de pão, quando vos disse para tomardes cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus?” 12Então entenderam que não havia falado do cuidado com fermento de pão, mas com a doutrina dos fariseus e saduceus.

Pedro professa a fé. 13Chegando à região de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “Quem as pessoas dizem que é o Filho do homem?” 14Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas”. 15Então ele perguntou-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. 17Em resposta, Jesus disse: “Feliz és tu, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou isso, mas o Pai que está nos céus. 18E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela. 19Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”. 20E deu ordens aos discípulos de não falarem para ninguém que ele era o Cristo.

Primeiro anúncio da paixão. 21Desde então, Jesus começou a mostrar a seus discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar. 22Pedro levou-o para um lado e se pôs a repreendê-lo: “Deus não permita, Senhor, que isso aconteça”. 23Mas Jesus voltou-se para Pedro e disse: “Afasta-te de mim, satanás. Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não tens senso para as coisas de Deus, mas para as dos homens”.

Carregar a cruz com Cristo. 24Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 25Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por amor de mim, há de encontrá-la. 26O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a se prejudicar? Ou, o que se pode dar em troca da própria vida? 27Porque o Filho do homem há de vir na glória do Pai, com os anjos, e então dará a cada um conforme as suas obras. 28Eu vos garanto que alguns dos que aqui se encontram não morrerão antes de verem o Filho do homem vir em seu reino.

17 A Transfiguração de Jesus. 1Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a sós para um monte alto e afastado. 2E transfigurou-se diante deles. Seu rosto brilhou como o sol e as roupas se tornaram brancas como a luz. 3Nisso, apareceram Moisés e Elias conversando com ele. 4Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. 5Ele estava ainda falando quando uma nuvem brilhante os envolveu e da nuvem se fez ouvir uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, de quem eu me agrado, escutai-o”. 6Ao ouvir a voz, os discípulos caíram com o rosto no chão e ficaram com muito medo. 7Jesus se aproximou, tocou-os e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. 8Então eles ergueram os olhos, mas não viram mais ninguém, a não ser Jesus. 9Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do homem ressuscite dos mortos”. 10Os discípulos perguntaram-lhe: “Por que, então, os escribas dizem que primeiro deve vir Elias?” 11Ele respondeu: “Elias de fato deve voltar e restabelecer tudo. 12Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo o Filho do homem vai sofrer nas mãos deles”. 13Os discípulos compreenderam então que lhes falava de João Batista.

A pouca fé dos discípulos. 14Quando voltaram até o povo, um homem aproximou-se dele e, de joelhos, 15suplicava: “Senhor, tem piedade de meu filho! Ele é epiléptico e tem ataques tão fortes que muitas vezes chega a cair no fogo ou na água. 16Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não foram capazes de curá-lo”. 17Jesus respondeu: “Ó gente incrédula e perversa! Até quando deverei ficar convosco? Até quando terei de suportar-vos? Trazei-o aqui”. 18Jesus esconjurou o demônio que saiu do menino, e na mesma hora ele ficou curado. 19Então os discípulos chegaram perto de Jesus e, em particular, lhe perguntaram: “Por que nós não pudemos expulsar este demônio?” 20Ele respondeu: “Por causa de vossa pouca fé. Eu vos garanto: Se tivésseis uma fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a este monte: ‘sai daqui para ali’ e ele iria, e nada vos seria impossível”.

O segundo anúncio da paixão. 22Quando eles estavam reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes: “O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, 23e eles o matarão, mas ao terceiro dia ressuscitará”. E eles ficaram muito tristes.

A liberdade e o tributo. 24Quando entraram em Cafarnaum, os cobradores do imposto do Templo vieram a Pedro e perguntaram: “Vosso mestre não paga o imposto?” 25Ele respondeu: “Paga sim”. Ao entrar em casa, Jesus se antecipou, perguntando: “Que te parece, Simão? De quem os reis da terra cobram impostos ou tributos, dos filhos ou dos estranhos?” 26Ele respondeu: “Dos estranhos”. E Jesus lhe disse: “Então os filhos estão isentos. 27Mas, para não os escadalizarmos, vai ao mar, lança o anzol, pega o primeiro peixe que morder a isca, abre-lhe a boca e nela acharás uma moeda. Retira-a e dá por mim e por ti”.

18 O maior do Reino. 1Naquele momento, aproximaram-se de Jesus os discípulos e perguntaram: “Quem será o maior no reino dos céus?” 2Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles, 3e disse: “Eu vos garanto que se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus. 4Quem se fizer pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus.

Evitar o escândalo. 5E quem receber uma destas crianças em meu nome, é a mim que recebe. 6Mas quem escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor seria para ele que lhe pendurassem uma pedra de moinho ao pescoço e o jogassem no fundo do mar. 7Ai do mundo por causa dos escândalos! Não pode deixar de haver escândalos; mas ai daquele por quem vier o escândalo! 8Se tua mão ou teu pé forem para ti ocasião de pecado, corta-os e joga longe de ti. Pois é melhor entrares na vida mutilado ou coxo do que, tendo duas mãos e dois pés, seresjogado no fogo eterno. 9E se teu olho for para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga longe de ti. É melhor entrares com um só olho na vida do que com os dois seres lançado no fogo do inferno. 10Cuidado para não desprezar um desses pequeninos, porque eu vos digo que seus anjos estão continuamente no céu, na presença do meu Pai celeste.

A parábola da ovelha perdida. 12O que vos parece? Suponhamos que um homem possua cem ovelhas e uma se extravie. Não deixará ele as noventa e nove na montanha para ir buscar a ovelha que se extraviou? 13E eu vos garanto que, ao encontrá-la, sente mais alegria por ela do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. 14Assim também, a vontade de vosso Pai celeste é que não se perca nem um só destes pequeninos.

Correção fraterna. 15Se teu irmão pecar, vai e censura-o pessoalmente. Se ele te ouvir, terás ganho teu irmão. 16Se não te ouvir, leva contigo uma ou duas pessoas a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. 17Se não as ouvir, vai dizê-lo à igreja. E, se não escutar a igreja, seja para ti como um pagão e pecador público. 18Eu vos garanto: Tudo que ligardes na terra, será ligado no céu; e tudo que desligardes na terra, será desligado no céu. 19Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedir qualquer coisa, hão de consegui-lo do meu Pai que está nos céus. 20Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali no meio deles”.

Parábola do devedor cruel. 21Então se aproximou Pedro e lhe perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” 22Jesus lhe respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas setenta e sete vezes. 23Por isso o reino dos céus se assemelha a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que devia uma enorme fortuna. 25Como não tivesse com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo que tinha, para pagar a dívida. 26Mas o servo caiu de joelhos diante do senhor e disse: ‘Senhor, tem paciência comigo e te pagarei tudo’. 27Compadecido, o senhor o deixou ir embora e lhe perdoou a dívida. 28Esse servo, ao sair dali, encontrou um de seus companheiros de trabalho, que lhe devia cem moedas de prata. Agarrou-o pelo pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que deves’! 29De joelhos, o companheiro suplicava: ‘Tem paciência comigo e te pagarei tudo’. 30Mas ele não concordou e o fez ir para a cadeia até pagar a dívida. 31Ao verem isso, seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo que havia acontecido. 32Então o senhor o chamou e lhe disse: ‘Servo miserável, eu te perdoei toda aquela dívida porque me suplicaste. 33Não devias também tu ter compaixão do teu companheiro como eu tive de ti?’ 34Irado, o senhor o entregou aos carrascos até que pagasse toda a dívida. 35Assim também fará convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar seu irmão de todo o coração”.

19 1Ao terminar estes discursos, Jesus deixou a Galileia e veio para o território da Judeia, além do Jordão. 2Uma grande multidão o seguiu e ele curou ali os doentes.

VI. JESUS SOBE A JERUSALÉM E CONCLUI O MINISTÉRIO 

O matrimônio é indissolúvel. 3Aproximaram-se dele alguns fariseus para testá-lo com a pergunta: “É permitido um homem despedir sua mulher por qualquer motivo?” 4Ele respondeu: “Não lestes que no princípio o Criador os fez homem e mulher 5e disse: Por isso o homem deixará o pai e a mãe para unir-se à sua mulher, e os dois serão uma só carne? 6Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu”. 7Eles insistiram: “Então, como é que Moisés mandou dar certidão de divórcio, ao despedir a mulher?” 8Jesus respondeu: “Foi por causa da dureza de vosso coração que Moisés vos permitiu divorciar-vos de vossas mulheres. Mas no princípio não foi assim. 9Eu, porém, vos digo: Quem se divorciar de sua mulher, salvo em caso de ‘prostituição’, e se casar com outra, comete adultério”.

O celibato voluntário. 10Os discípulos lhe disseram: “Se é esta a situação do homem em relação à mulher, então é preferível não casar”. 11Ele lhes respondeu: “Nem todos são capazes de entender isso, mas somente aqueles a quem foi dado. 12Pois há homens incapazes para o casamento porque assim nasceram do ventre da mãe; há outros que assim foram feitos pelos homens, e há aqueles que assim se fizeram por amor do reino dos céus. Quem puder entender, que entenda”.

Jesus abençoa as crianças. 13Alguns trouxeram a Jesus crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse sobre elas. Os discípulos, porém, os repreendiam. 14Mas Jesus disse: “Deixai vir a mim as crianças e não as impeçais, porque o reino dos céus é daqueles que são como elas”. 15E, depois de impor-lhes as mãos, partiu dali.

O jovem rico. 16Nisso, alguém se aproximou e lhe perguntou: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” 17Ele lhe respondeu: “Por que me perguntas pelo bom? Um só é o bom. Se quiseres entrar na vida, observa os mandamentos”. 18Ele perguntou: “Quais?” Jesus respondeu: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás testemunho falso; 19honra pai e mãe e ama teu próximo como a ti mesmo”. 20O jovem lhe disse: “Tudo isso eu tenho observado. O que ainda me falta?” 21Jesus respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me”. 22Ao ouvir isso, o jovem foi embora triste, porque possuía muitos bens.

Perigo das riquezas. 23E Jesus disse aos seus discípulos: “Eu vos garanto que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. 24E digo mais ainda: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. 25Ao ouvirem isso, os discípulos se espantaram e disseram: “Então, quem pode salvar-se?” 26Jesus olhou para eles e disse: “Para os seres humanos isso é impossível, mas para Deus tudo é possível”.

O prêmio da renúncia. 27Então, Pedro tomou a palavra e disse: “E nós, que deixamos tudo e te seguimos, o que teremos?” 28Jesus respondeu: “Eu vos asseguro: Quando todas as coisas forem renovadas e o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, vós que me seguistes também vos assentareis em doze tronos para governar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que deixar casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por amor de meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna. 30Mas muitos dos primeiros serão os últimos e dos últimos serão os primeiros.

20 Trabalhadores na vinha. 1O reino dos céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu para contratar trabalhadores para sua vinha. 2Acertado com eles o preço da diária, mandou-os para sua vinha. 3Saiu pelas nove horas da manhã e viu outros na praça sem fazer nada. 4E lhes disse: ‘Ide também vós para a vinha e eu vos darei o que for justo’. 5E eles foram. Saiu de novo, por volta do meio-dia e das três horas da tarde, e fez o mesmo. 6E, ao sair por volta das cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam desocupados e lhes disse: ‘Como é que estais aqui sem fazer nada o dia todo?’ 7Eles lhe responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. Ele lhes disse: ‘Ide também vós para a vinha’. 8Pelo fim do dia, o dono da vinha disse ao seu feitor: ‘Chama os trabalhadores e paga os salários, a começar dos últimos até os primeiros contratados’. 9Chegando os das cinco horas da tarde, cada um recebeu uma diária. 10E quando chegaram os primeiros, pensaram que iam receber mais. No entanto, receberam também uma diária. 11Ao receberem, reclamavam contra o dono, 12dizendo: ‘Os últimos trabalharam somente uma hora e lhes deste tanto quanto a nós, que suportamos o peso do dia e o calor’. 13E ele respondeu a um deles: ‘Amigo, não te faço injustiça. Não foi esta a diária que acertaste comigo? 14Toma pois o que é teu e vai embora. Quero dar também ao último o mesmo que a ti. 15Não posso fazer com os meus bens o que eu quero? Ou me olhas com inveja por eu ser bom?’ 16Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.

Terceiro anúncio da paixão. 17Quando Jesus estava subindo a Jerusalém, tomou à parte os doze discípulos e lhes disse durante a caminhada: 18“Nós estamos subindo a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos sumos sacerdotes e escribas. Eles o condenarão à morte 19e o entregarão aos pagãos. Ele será zombado, açoitado e crucificado, mas ao terceiro dia ressuscitará”.

Ambição e serviço. 20Então se aproximou dele a mulher de Zebedeu com os seus filhos, prostrando-se para pedir alguma coisa. 21Jesus perguntou-lhe: “O que desejas?” Ela respondeu: “Manda que os meus dois filhos se assentem, um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino”. 22Jesus, porém, disse: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles disseram: “Podemos”. 23E Jesus prosseguiu: “Bebereis o meu cálice, mas assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não compete a mim conceder. É para quem meu Pai o preparou”. 24Os outros dez, que ouviram isso, se aborreceram com os dois irmãos. 25Jesus, porém, os chamou e disse: “Sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. 26Entre vós não seja assim. Ao contrário, quem quiser ser grande, seja vosso servidor, 27e quem quiser ser o primeiro, seja vosso escravo. 28Foi assim que o Filho do homem veio: não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos”.

Os cegos de Jericó. 29Ao saírem de Jericó, uma grande multidão o seguia. 30Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouviram que Jesus passava e começaram a gritar: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de nós!” 31O povo repreendia-os e mandava que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais alto: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de nós!” 32Jesus parou, chamou-os e perguntou: “Que desejais que eu vos faça?” 33Eles lhe disseram: “Senhor, que nossos olhos se abram”. 34Compadecido, Jesus lhes tocou os olhos; eles logo começaram a ver de novo e se puseram a segui-lo.

21 Rei da paz e Filho de Davi. 1Quando estavam perto de Jerusalém e chegavam a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, 2e lhes disse: “Ide ao povoado que está em frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os para mim. 3Se vos disserem alguma coisa, respondei: ‘O Senhor precisa deles e logo os devolverá’”. 4Isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: 5Dizei à filha de Sião: eis que teu rei vem a ti, humilde e montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta. 6Os discípulos foram e agiram como Jesus lhes tinha mandado. 7Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou em cima. 8Numerosa multidão estendia suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo chão. 9A multidão que ia na frente e a multidão que seguia atrás gritavam: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito quem vem em nome do Senhor, hosana nas alturas”. 10E, quando entrou em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou e perguntava: “Quem é este?” 11E a multidão respondia: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”.

Jesus purifica o Templo. 12Jesus entrou no Templo e expulsou de lá todos quantos vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores de pombas. 13Depois lhes disse: “Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de ladrões”. 14No Templo, aproximaram-se dele cegos e coxos, e ele os curou. 15Os sumos sacerdotes e os escribas, ao verem as maravilhas que fazia e as crianças que gritavam no Templo “Hosana ao Filho de Davi”, indignados, 16perguntaram a Jesus: “Estás ouvindo o que elas dizem?” Jesus lhes respondeu: “Sim. Nunca lestes: Da boca das crianças e dos que mamam, tiraste um louvor”? 17Em seguida, Jesus os deixou; saiu da cidade e foi para Betânia, onde passou a noite.

Maldição da figueira. 18Ao voltar à cidade de manhã cedo, sentiu fome. 19Viu uma figueira perto do caminho, foi até ela, mas não achou nada a não ser folhas. Então lhe disse: “Jamais nasça fruto de ti”. E a figueira secou imediatamente. 20Vendo isso, os discípulos se admiraram e disseram: “Como a figueira secou de repente!” 21Jesus lhes respondeu: “Eu vos garanto: se tivésseis fé e não duvidásseis, não só faríeis isso com a figueira, mas até mesmo se dissésseis a este monte: ‘sai daí e lança-te ao mar’, isso aconteceria. 22E tudo que pedirdes com fé, na oração, recebereis”.

A autoridade de Jesus. 23Jesus entrou no Templo e estava ensinando. Nisso, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo se aproximaram dele e disseram: “Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu esse direito?” 24Jesus lhes respondeu: “Eu também vou fazer-vos uma pergunta e, se me responderdes, direi com que autoridade faço estas coisas. 25O batismo de João, de onde vinha? Do céu ou dos homens?” Eles começaram a raciocinar entre si: “Se dissermos: ‘do céu’, ele nos dirá: ‘então por que não acreditastes nele?’ 26Se dissermos: ‘dos homens’, temos medo da multidão, pois todos consideram João como profeta”. 27Por fim, responderam a Jesus: “Não sabemos”. E Jesus lhes disse, por sua vez: “Eu também não vos digo com que autoridade faço estas coisas.

A parábola dos dois filhos. 28O que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi até o mais velho e disse: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. 29Ele, porém, respondeu: ‘Não quero ir’. Mas depois se arrependeu e foi. 30Foi, então, até o outro filho e falou a mesma coisa, e ele respondeu: ‘Vou, senhor’. Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade do pai?” “O primeiro”, responderam eles. Jesus lhes disse: “Eu vos garanto que os cobradores de impostos e as prostitutas entram antes no reino de Deus do que vós. 32Porque João veio a vós no caminho da justiça e não acreditastes nele, ao passo que os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram. E vós, vendo isso, nem assim vos arrependestes para crerdes nele.

Os lavradores homicidas. 33Ouvi outra parábola: Havia um pai de família que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, escavou um tanque para esmagar as uvas, construiu uma torre e arrendou tudo a uns lavradores. Depois viajou para o exterior. 34Quando chegou o tempo da safra, mandou os escravos receberem dos lavradores sua parte dos frutos. 35Os lavradores, porém, agarraram os escravos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 36Novamente enviou outros escravos, em maior número do que os primeiros, e lhes fizeram o mesmo. 37Por fim enviou-lhes o próprio filho, pensando: ‘Eles vão respeitar o meu filho’. 38Mas, ao verem o filho, os lavradores disseram entre si: ‘Este é o herdeiro! Vamos matá-lo e tomemos a sua herança’. 39Eles pegaram o filho do patrão, arrastaram-no para fora da vinha e o mataram. 40Pois bem: Quando vier o dono da vinha, o que fará com os lavradores?” 41Eles responderam: “Fará perecer de morte horrível os malfeitores e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe deem os frutos a seu tempo”. 42Então Jesus lhes disse: “Nunca lestes nas Escrituras: A pedra rejeitada pelos construtores é que se tornou a pedra principal. Foi obra do Senhor, digna de admiração para nossos olhos? 43Por isso eu vos digo: O reino de Deus será tirado de vós e será dado a um povo que produza os devidos frutos. 44Aquele que cair sobre esta pedra ficará despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será esmagado”. 45Ao ouvirem estas parábolas de Jesus, os sumos sacerdotes e os fariseus entenderam que falava deles. 46Queriam prendê-lo, mas tinham medo da multidão que o considerava um profeta.

22 A parábola dos convidados. 1Jesus tomou a palavra e falou-lhes de novo em parábolas: 2“O reino dos céus é semelhante a um rei que preparou a festa para o casamento de seu filho. 3Enviou os escravos para chamar os convidados à festa, mas eles não quiseram vir. 4Mandou novamente outros escravos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: o banquete já está pronto, os bois e animais de corte já foram abatidos; tudo está preparado, vinde para a festa’. 5Mas, sem se incomodarem, eles se foram, um para o seu sítio, outro para o seu negócio. 6Outros agarraram os escravos, maltrataram-nos e os mataram. 7O rei ficou furioso e mandou seus exércitos exterminar aqueles assassinos e tocar fogo em sua cidade. 8Depois disse aos escravos: ‘A festa está preparada, mas os convidados não eram dignos. 9Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para a festa todos os que encontrardes’. 10Os escravos saíram pelos caminhos e reuniram todos que encontraram, maus e bons, e a sala da festa ficou cheia de convidados. 11Quando o rei entrou para ver os que estavam à mesa, viu ali um homem que não vestia roupa de casamento, 12e lhe disse: ‘Amigo, como entraste aqui sem vestir roupa de casamento?’ Mas ele ficou calado. 13Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai-o de pés e mãos e jogai-o lá fora na escuridão; ali haverá choro e ranger de dentes’. 14Porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos”.

O tributo devido a César. 15Então os fariseus se retiraram e convocaram um conselho para ver como o poderiam pegar em alguma palavra. 16Enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos, para lhe dizer: “Mestre, sabemos que és sincero, pois com franqueza ensinas o caminho de Deus, sem te comprometeres com ninguém, nem olhar a aparência de pessoas. 17Dize-nos, pois, o que te parece: É justo pagar imposto a César ou não?” 18Conhecendo-lhes a malícia, Jesus falou: “Por que me testais, hipócritas? 19Mostrai-me a moeda do imposto”. Eles lhe apresentaram um denário. 20E Jesus lhes perguntou: “De quem é essa imagem e inscrição?” 21Responderam eles: “De César!” Então Jesus lhes disse: “Pois dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. 22Ao ouvirem isto, ficaram maravilhados e, deixando-o, foram embora.

A ressurreição dos mortos. 23Naquele dia, alguns saduceus, que negam a ressurreição, aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: 24“Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem deixar filhos, case-se com ela o irmão dele para dar descendência ao morto. 25Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro casou, mas morreu sem filhos e deixou a mulher para seu irmão. 26Do mesmo modo o segundo, o terceiro, até o sétimo. 27Por fim, depois de todos, morreu a mulher. 28Na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher, se todos a tiveram?” 29Jesus lhes respondeu: “Estais enganados e não conheceis nem as Escrituras, nem o poder de Deus. 30Porque na ressurreição, as pessoas não se casam, nem se dão em casamento, mas são como os anjos no céu. 31E quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus disse: 32Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos”. 33Ouvindo isso, o povo se maravilhava de sua doutrina.

O maior mandamento. 34Quando os fariseus souberam que Jesus fizera calar os saduceus, juntaram-se em bloco. 35E um deles, doutor da Lei, perguntou, para o testar: 36“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” 37Jesus lhe respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. 38Este é o maior e o primeiro mandamento. 39Mas o segundo é semelhante a este: Amarás o próximo como a ti mesmo. 40Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”.

A origem do Messias. 41Estando os fariseus reunidos, Jesus perguntou-lhes: 42“O que pensais do Cristo? De quem ele é filho?” Eles responderam: “De Davi”. 43Jesus tornou a perguntar: “Como então Davi, pelo Espírito, o chama Senhor, quando fala: 44Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que ponha teus inimigos como apoio de teus pés? 45Se, pois, Davi o chama de Senhor, como pode ser ele seu filho?” 46Ninguém soube responder-lhe nada. E, desde então, ninguém mais ousou perguntar-lhe coisa alguma.

23 Os escribas e fariseus hipócritas. 1Então Jesus falou às multidões e a seus discípulos: 2“Os escribas e os fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. 3Portanto, fazei e observai tudo o que eles vos disserem, mas não os imiteis nas ações, porque eles dizem e não fazem. 4Amarram pesadas cargas e as põem nas costas dos outros, e eles mesmos nem com o dedo querem tocá-las. 5Praticam todas as suas ações para serem vistos pelos outros. Por isso alargam as faixas de pergaminho e alongam as franjas de seus mantos. 6Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas. 7Gostam de ser chamados de mestre pelo povo. 8Mas vós, não vos deixeis chamar de mestre, porque um só é vosso mestre, e todos vós sois irmãos. 9A ninguém chameis de pai na terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. 10Nem vos façais chamar doutores, porque um só é vosso doutor, o Cristo. 11O maior entre vós seja vosso servo. 12Aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado. 13Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais o reino dos céus aos outros! Não entrais vós nem permitis que entrem os que o desejam. 15Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que percorreis mar e terra a fim de converter uma só pessoa para, depois de convertida, a tornar merecedora do inferno duas vezes mais do que vós mesmos! 16Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jurar pelo Santuário, não é nada, mas se jurar pelo ouro do Santuário, fica obrigado’. 17Insensatos e cegos! O que vale mais, o ouro ou o Santuário que santifica o ouro? 18E dizeis também: ‘Se alguém jurar pelo altar, não é nada, mas se jurar pela oferta que está no altar, fica obrigado’. 19Cegos, o que é mais, a oferenda ou o altar que santifica a oferenda? 20Pois, quem jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre o altar. 21E quem jura pelo Santuário, jura por ele e por quem o habita. 22E quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado. 23Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não vos preocupais com o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! É isso o que importa fazer, sem contudo omitir aquilo. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! 25Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que por fora limpais o copo e o prato, mas por dentro estais cheios de roubo e cobiça. 26Fariseu cego, limpa primeiro o copo por dentro, para que fique limpo também por fora. 27Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que sois semelhantes a sepulcros caiados, vistosos por fora, mas por dentro cheios de ossos dos mortos e de toda sorte de podridão. 28Assim também vós, por fora pareceis justos aos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e maldade. 29Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que construís os sepulcros dos profetas e enfeitais os monumentos dos justos, 30e dizeis: ‘Se nós tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no sangue dos profetas’. 31Com isso afirmais que sois filhos dos que mataram os profetas. 32Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais. 33Serpentes, raça de víboras, como escapareis ao castigo do inferno? 34É por isso que vos envio profetas, sábios e escribas. Deles matareis e crucificareis alguns, a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade. 35Por isso cairá sobre vós o castigo pelo assassinato de todos os inocentes, desde Abel, o justo, até Zacarias filho de Baraquias, a quem matastes entre o Santuário e o altar. 36Eu vos garanto: tudo isto virá sobre esta geração. Lamento sobre Jerusalém. 37Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 38Por isso vossa casa ficará abandonada. 39Eu vos digo: Não me vereis mais até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor”.

24 O Templo será destruído. 1Jesus saiu do Templo e ia embora, quando os discípulos se aproximaram a fim de chamar-lhe a atenção para as construções do Templo. 2Ele, porém, lhes disse: “Estais vendo tudo isso? Eu vos garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído”.

O começo dos sofrimentos. 3Quando Jesus estava sentado no monte das Oliveiras, os discípulos chegaram perto dele e perguntaram-lhe em particular: “Dize-nos: quando acontecerá tudo isso? e qual é o sinal de tua vinda e do fim do mundo?” 4Jesus lhes respondeu: “Cuidado para ninguém vos enganar. 5Porque muitos virão em meu nome e dirão: ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos. 6Ouvireis falar de guerras e boatos de guerras, mas não vos perturbeis, porque é preciso que isso aconteça; mas ainda não é o fim. 7Uma nação se levantará contra outra e um reino contra outro. Haverá fome e terremotos em diversos lugares. 8Mas tudo isso é o começo dos sofrimentos. 9Em seguida vos entregarão a torturas e vos matarão, e sereis odiados por todas as nações por causa do meu nome. 10Muitos perderão a fé, uns trairão os outros e se odiarão. 11E numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. 12Por causa da crescente maldade, o amor de muitos esfriará. 13Mas quem perseverar até o fim será salvo. 14Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro como testemunho a todas as nações. E então virá o fim.

A destruição de Jerusalém. 15Quando virdes o Abominável Devastador, predito pelo profeta Daniel, instalado no lugar santo – quem lê, entenda – 16então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. 17Quem estiver no terraço não desça para pegar o que estiver em casa. 18Quem estiver na lavoura não volte atrás para pegar o manto. 19Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando naqueles dias. 20Orai para que vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado. 21Porque haverá tamanha aflição como jamais houve desde o princípio do mundo, nem haverá. 22Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria. Por amor dos eleitos, porém, os dias serão abreviados.

A vinda do Filho do homem. 23Então se alguém vos disser: ‘O Cristo está aqui’ ou ‘acolá’, não acrediteis. 24Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas que farão grandes sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. 25Vede, eu vos preveni. 26Se vos disserem, pois: ‘Lá está ele no deserto’, não saiais; ‘aqui está, num esconderijo’, não acrediteis; 27porque, como o relâmpago surge do Oriente e brilha até o Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. 28Onde estiver o cadáver, ali se reúnem também os abutres. 29Logo em seguida, depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá e a lua não dará sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes do céu serão abalados. 30Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todos os povos da terra farão lamentações e verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e glória. 31Enviará seus anjos com poderoso som de trombeta e eles reunirão os eleitos dos quatro ventos, de um extremo do céu até o outro.

A lição da figueira. 32Aprendei a parábola da figueira. Quando seus ramos estão tenros e as folhas brotam, sabeis que o verão está próximo. 33Assim também quando virdes tudo isso, ficai sabendo que o Filho do homem está próximo, às portas. 34Eu vos garanto que não passará esta geração antes que tudo isso aconteça. 35Passará o céu e a terra, minhas palavras não passarão. 36Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai.

É necessário vigiar. 37Porque a vinda do Filho do homem será como nos dias de Noé. 38Nos dias que antecederam o dilúvio, as pessoas comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 39Elas nem se deram conta, até que veio o dilúvio e as arrastou a todas. Assim será a vinda do Filho do homem. 40Estarão dois na lavoura, um é levado e o outro é deixado. 41Duas mulheres estarão moendo trigo no moinho, uma é levada e a outra é deixada. 42Vigiai, pois, porque não sabeis o dia em que chegará o Senhor. 43Vós bem sabeis que, se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, estaria de vigia e não deixaria arrombar-lhe a casa. 44Por isso estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais virá o Filho do homem. 45Quem será, pois, o escravo fiel e prudente que o senhor pôs à frente dos outros escravos para lhes dar comida no momento oportuno? 46Feliz o escravo que, ao voltar, o senhor o encontrar agindo desta forma. 47Eu vos garanto: Confiará a ele a administração de todos os seus bens. 48Mas se o escravo mau disser consigo: ‘Meu senhor está demorando’, 49e começar a bater nos companheiros, a comer e beber com os bêbados, 50virá o senhor desse escravo no dia em que menos esperar e numa hora imprevista; 51ele o afastará do cargo, destinando-lhe a sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.

25 A parábola das dez virgens. 1O reino dos céus será semelhante a dez virgens que saíram com suas lâmpadas ao encontro do noivo. 2Cinco eram tolas e cinco prudentes. 3Pegando as lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. 4Mas as prudentes levaram reservas de óleo junto com as lâmpadas. 5Como o noivo demorasse, todas cochilaram e adormeceram. 6À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Lá vem o noivo! Saí-lhe ao encontro’. 7Todas as virgens acordaram e se puseram a preparar as lâmpadas. 8As tolas disseram às prudentes: ‘Dai-nos um pouco de vosso óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando’. 9Mas as prudentes responderam: ‘Não temos o suficiente para nós e para vós; é melhor irdes aos vendedores comprar’. 10Enquanto elas foram comprar, chegou o noivo. As que estavam prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi fechada. 11Mais tarde, chegaram as outras virgens e gritaram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. 12Mas ele respondeu: ‘Na verdade, não vos conheço’. 13Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

A parábola dos talentos. 14Será também como um homem que, tendo de viajar para o exterior, chamou os seus escravos e lhes confiou os bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois e ao terceiro um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu. 16Imediatamente, o que recebeu cinco talentos saiu e negociou com eles, ganhando outros cinco. 17Do mesmo modo, o escravo que recebeu dois talentos ganhou outros dois. 18Mas o que recebeu um, saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. 19Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles escravos e lhes pediu as contas. 20O que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco: ‘Senhor, disse, confiaste-me cinco talentos; aqui tens outros cinco que ganhei’. 21O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, escravo bom e fiel; foste fiel no pouco, eu te confiarei muito; vem alegrar-te com teu senhor’. 22Chegou o escravo dos dois talentos e disse: ‘Senhor, dois talentos me deste, aqui tens outros dois que ganhei’. 23O senhor lhe disse: ‘Muito bem, escravo bom e fiel; foste fiel no pouco, eu te confiarei muito; vem alegrar-te com teu senhor’. 24Aproximou-se também o que tinha recebido apenas um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25Por isso tive medo e fui esconder teu talento na terra; aqui tens o que é teu’. 26Respondeu o senhor: ‘Escravo mau e preguiçoso, sabias que colho onde não semeei e recolho onde não espalhei. 27Devias, pois, depositar meu dinheiro num banco para, na volta, eu receber com juros o que é meu. 28Tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem dez. 29Pois ao que tem muito, mais lhe será dado e ele terá em abundância. Mas ao que não tem, até mesmo o que tem lhe será tirado. 30Quanto a este escravo inútil, jogai-o lá fora na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes’.

Juízo final. 31Quando o Filho do homem vier em sua glória com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso. 32Em sua presença, todas as nações se reunirão e ele vai separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à esquerda. 34E o rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, abençoados por meu Pai! Tomai posse do Reino preparado para vós desde a criação do mundo. 35Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes e, 36estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na cadeia e viestes ver-me’. 37E os justos perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? 39Quando foi que te vimos enfermo ou na cadeia e te fomos visitar?’ 40E o rei dirá: ‘Eu vos garanto: todas as vezes que fizestes isso a um desses meus irmãos menores, a mim o fizestes’. 41Depois dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. 42Porque eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43fui peregrino e não me destes abrigo; estive nu e não me vestistes, enfermo e na cadeia e não me visitastes’. 44E eles perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia e não te servimos?’ 45E ele lhes responderá: ‘Eu vos garanto: quando deixastes de fazer isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes’. 46E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos, para a vida eterna”.

26 Conclusão e transição. 1Ao terminar todos esses discursos, Jesus disse aos discípulos: 2“Sabeis que dentro de dois dias será a Festa da Páscoa, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado”.

VII. PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DE JESUS

Decreto de prisão e morte. 3Nessa ocasião, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do sumo sacerdote, chamado Caifás, 4e resolveram prender Jesus a traição, para o matar. 5Diziam, no entanto: “Não seja durante a festa, para não haver tumulto entre o povo”.

A unção de Betânia. 6Quando Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso, 7uma mulher chegou perto dele com um vaso feito de alabastro, cheio de precioso perfume, e derramou-lhe sobre a cabeça enquanto ele estava à mesa. 8Vendo isso, os discípulos disseram indignados: “Para que tanto desperdício? 9Este perfume poderia ser vendido por bom preço, e o dinheiro distribuído aos pobres”. 10Ao ouvir isso, Jesus lhes disse: “Por que incomodais esta mulher? Ela me fez uma boa ação. 11Porque pobres sempre os tendes convosco, a mim, porém, nem sempre me tendes. 12Ao derramar este perfume no meu corpo, ela me ungiu para a sepultura. 13Eu vos garanto que, em qualquer parte do mundo onde este evangelho for anunciado, será também contado, em sua memória, o que ela fez”.

Traição de Judas. 14Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os sumos sacerdotes 15e lhes disse: “Quanto quereis dar-me, se eu vos entregar Jesus?” Eles decidiram dar-lhe trinta moedas de prata. 16E a partir de então, procurava uma ocasião oportuna para entregá-lo.

A Páscoa com os discípulos. 17No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram: “Onde queres que te preparemos a Ceia da Páscoa?” 18Ele respondeu: “Ide à cidade, à casa de certo homem, e dizei-lhe: O Mestre mandou dizer: O meu tempo está próximo; quero celebrar em tua casa a Páscoa com os meus discípulos”. 19Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Ceia da Páscoa. 20Chegada a tarde, ele se pôs à mesa com os Doze. 21E, enquanto comiam, disse-lhes: “Eu vos garanto que um de vós me entregará”. 22Muito tristes, começaram a dizer um por um: “Por acaso sou eu, Senhor?” 23Ele respondeu: “Quem põe comigo a mão no prato, esse me entregará. 24O Filho do homem segue seu caminho como dele está escrito; mas ai daquele por quem o Filho do homem for traído! Melhor seria para esse homem não ter nascido”. 25Então Judas, que ia entregá-lo, perguntou: “Por acaso sou eu, Mestre?” E ele respondeu: “Tu o disseste”.

O testamento eucarístico. 26Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. 27Em seguida, tomando um cálice e, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: “Bebei dele todos, 28pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos pecados. 29Digo-vos que já não beberei deste fruto da videira até o dia em que o beberei de novo convosco no reino de meu Pai”.

A negação de Pedro é predita. 30Depois de terem cantado os salmos, saíram para o monte das Oliveiras. 31Então Jesus lhes disse: “Todos vós ficareis decepcionados comigo esta noite, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. 32Mas, depois de ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia”. 33Pedro tomou a palavra e lhe disse: “Ainda que todos fiquem desapontados contigo, eu jamais me decepcionarei”. 34Jesus lhe respondeu: “Eu te garanto que nesta mesma noite, antes que o galo cante, já me terás negado três vezes”. 35Pedro insistiu: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, não te negarei”. E o mesmo diziam todos os discípulos.

Jesus no Getsêmani. 36Então Jesus se retirou com os discípulos para um sítio chamado Getsêmani e lhes disse: “Sentai-vos aqui, enquanto vou ali para orar”. 37Levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, e começou a ficar triste e angustiado. 38Então lhes disse: “Minha alma está triste até à morte. Ficai aqui em vigília comigo”. 39Adiantou-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orava, dizendo: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice, contudo não se faça como eu quero, mas como tu queres”. 40Voltou aos discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: “Não fostes capazes de vigiar uma hora comigo? 41Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. 42Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: “Pai, se este cálice não pode passar sem que eu dele beba, faça-se a tua vontade”. 43E, voltando outra vez, os encontrou adormecidos. É que eles tinham os olhos pesados de sono. 44Deixou-os de novo e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. 45Então voltou até os discípulos e lhes disse: “Dormi agora e descansai! Já se aproxima a hora e o Filho do homem vai ser entregue em mãos de pecadores. 46Levantai-vos! Vamos! Já se aproxima quem me vai entregar”.

Jesus é traído e preso. 47Jesus ainda estava falando, quando chegou Judas, um dos Doze, junto com um grande bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes e anciãos do povo. 48O traidor lhes tinha dado esta senha: “Aquele que eu beijar é Jesus; prendei-o”. 49Tão logo chegou, Judas aproximou-se de Jesus e disse: “Salve, Mestre!” E o beijou. 50Jesus lhe disse: “Amigo, faze o que tens a fazer”. Então eles avançaram sobre Jesus e o prenderam. 51Nisso um dos que estavam com Jesus meteu a mão na espada, puxou-a e feriu o escravo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. 52Jesus, porém, lhe disse: “Põe a espada na bainha, pois quem toma da espada, pela espada morrerá. 53Ou pensas que não posso pedir a meu Pai e ele me enviaria, neste instante, mais de doze legiões de anjos? 54Mas, nesse caso, como vão cumprir-se as Escrituras, segundo as quais é assim que deve acontecer?” 55Naquela hora Jesus disse à multidão: “Saístes para prender-me como se eu fosse um ladrão, com espadas e cacetes? Todos os dias eu estava sentado no Templo a ensinar, e não me prendestes. 56Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos Profetas”. Então todos os discípulos o abandonaram e fugiram.

Jesus professa ser o Messias. 57Os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o sumo sacerdote, onde os escribas e anciãos se haviam reunido. 58Pedro o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote. Entrou ali e sentou-se junto com os guardas para ver como ia terminar. 59Os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam falsos testemunhos contra Jesus para condená-lo à morte. 60Mas não os encontraram, embora muitas testemunhas falsas se tivessem apresentado. Finalmente apresentaram-se duas testemunhas 61que disseram: “Este homem falou: ‘Posso destruir o Santuário de Deus e em três dias reconstruí-lo’”. 62Então o sumo sacerdote levantou-se e perguntou: “Nada respondes ao que estes depõem contra ti?” 63Jesus, porém, permanecia calado. O sumo sacerdote lhe disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo: dize-nos se tu és o Cristo, o Filho de Deus”. 64Jesus respondeu-lhe: “Tu o disseste. Entretanto eu vos digo: Um dia vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu”. 65Então o sumo sacerdote rasgou as vestes e disse: “Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia. 66O que vos parece?” Eles responderam: “É réu de morte”. 67Então começaram a cuspir-lhe no rosto e a dar-lhe bofetadas, e outros a ferir-lhe o rosto; 68e diziam: “Adivinha, ó Cristo, quem foi que te bateu?”

A negação de Pedro. 69Enquanto isso, Pedro estava sentado lá fora, no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse: “Tu também estavas com Jesus, o Galileu”. 70Mas ele negou diante de todos, dizendo: “Não sei o que dizes”. 71Mas, ao sair em direção à porta, outra criada o viu e disse aos que lá estavam: “Este homem estava com Jesus, o Nazareno”. 72E de novo ele negou com juramento que não conhecia o homem. 73Pouco depois, os que ali estavam chegaram perto dele e disseram: “De fato, tu também és um deles, pois teu sotaque te denuncia”. 74Ele então começou a rogar pragas e a jurar que não conhecia o homem. Neste instante o galo cantou. 75Pedro se lembrou do que Jesus lhe dissera: “Antes que o galo cante, me negarás três vezes”. E, saindo para fora, Pedro chorou amargamente.

27 Jesus é conduzido a Pilatos. 1Chegada a manhã, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se em conselho contra Jesus para o condenarem à morte. 2Depois o levaram amarrado e o entregaram ao governador Pilatos.

O fim de Judas. 3Quando Judas, que o traíra, viu que o haviam condenado, ficou com remorsos, foi devolver as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e anciãos, 4e disse: “Pequei, traindo sangue inocente”. Eles lhe disseram: “O que nos importa isso? O problema é teu!” 5Ele atirou as moedas de prata no Santuário, saiu e foi enforcar-se. 6Os sumos sacerdotes ajuntaram as moedas de prata e disseram: “Não é permitido lançá-las no cofre das esmolas, pois são preço de sangue”. 7E em conselho resolveram comprar com elas o campo do Oleiro, para servir de cemitério dos estrangeiros. 8Por isso aquele campo é chamado, até o dia de hoje, Campo do Sangue. 9Assim cumpriu-se o que tinha sido dito pelo profeta Jeremias: E tomaram as trinta moedas de prata, o preço em que foi avaliado aquele que os israelitas puseram a preço, 10e as deram pelo campo do Oleiro, como o Senhor me tinha ordenado.

O interrogatório de Pilatos. 11Jesus foi apresentado ao governador. E o governador lhe perguntou: “És tu o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Tu o dizes”. 12Mas nada respondia às acusações feitas pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos. 13Disse-lhe então Pilatos: “Não ouves quanta coisa dizem contra ti?” 14Ele, porém, não respondeu mais nada, de sorte que o governador ficou muito admirado.

Condenação à morte. 15Por ocasião da Festa da Páscoa, o governador costumava libertar um preso, a pedido do povo. 16Havia então um preso famoso, chamado Barrabás. 17Estando, pois, reunidos, Pilatos disse-lhes: “Quem quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?” 18Pois bem sabia que o haviam entregue por inveja. 19Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: “Não te comprometas com este justo, pois sofri muito hoje em sonhos por causa dele”. 20Mas os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram a multidão que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus. 21Retomando a palavra, o governador perguntou: “Qual dos dois quereis que vos solte?” Eles responderam: “Barrabás!” 22Pilatos disse: “Mas, o que farei com Jesus, chamado Cristo?” Todos disseram: “Seja crucificado!” 23O governador insistiu: “Que mal fez ele?” Eles, porém, gritavam ainda mais: “Seja crucificado!” 24Ao ver que nada conseguia, e o tumulto crescia cada vez mais, Pilatos mandou trazer água, lavou as mãos e disse: “Sou inocente do sangue deste justo; o problema é vosso”. 25E todo o povo respondeu: “O sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos”. 26Então soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de tê-lo mandado açoitar, entregou-o para ser crucificado.

Coroado de espinhos. 27Os soldados do governador conduziram Jesus para o pátio do palácio e reuniram em volta dele todo o batalhão. 28Tiraram-lhe as vestes e jogaram-lhe em cima um manto de púrpura. 29Depois, colocaram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos e na mão direita uma vara. Zombando, dobravam o joelho diante dele e diziam: “Salve, rei dos judeus”. 30E, cuspindo em cima dele, tiravam-lhe a vara e com ela feriam-lhe a cabeça. 31Depois de caçoarem dele, arrancaram-lhe o manto, vestiram-no com as suas vestes e o levaram para crucificar.

Jesus é crucificado. 32Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão, que requisitaram para levar a cruz. 33Chegando ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar da Caveira”, 34deram-lhe para beber vinho misturado com fel; mas, tendo provado, não quis beber. 35Assim que o crucificaram, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte; 36e ficaram ali sentados, montando guarda. 37Sobre a cabeça de Jesus puseram escrito o motivo da condenação: Este é Jesus, o rei dos judeus. 38Com ele foram crucificados dois bandidos, um à direita e outro à esquerda. 39Os que passavam o injuriavam e, balançando a cabeça, 40diziam: “Tu, que destróis o Santuário e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz”! 41Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, com os escribas e anciãos, zombavam e diziam: 42“Ele salvou os outros, a si mesmo não pode salvar. É o rei de Israel!… Desça agora da cruz e acreditaremos nele! 43Pôs sua confiança em Deus, que Deus o livre agora, se é que o ama, pois ele disse: Sou Filho de Deus!” 44Do mesmo modo os bandidos que com ele tinham sido crucificados o insultavam.

A morte do Filho de Deus. 45Desde o meio-dia até às três da tarde toda a região ficou coberta de escuridão. 46Pelas três da tarde, Jesus gritou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabachthani! O que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? 47Alguns dos que ali estavam ouviram isso e diziam: “Ele está chamando Elias”. 48E um deles foi correndo tomar uma esponja, embebeu-a de vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-lhe de beber. 49Os outros, porém, diziam: “Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo”. 50Mas Jesus deu de novo um forte grito e expirou. 51No mesmo instante a cortina do Santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e fenderam-se as rochas. 52Os túmulos se abriram e muitos corpos de santos ressuscitaram. 53Eles saíram dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos. 54Ao verem o terremoto e tudo quanto acontecera, o oficial romano e os que com ele guardavam Jesus ficaram com muito medo e diziam: “Verdadeiramente, este era Filho de Deus”. 55Havia ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para o servir. 56Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

O sepultamento. 57Chegada a tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus. 58Apresentou-se a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lhe fosse entregue. 59Tomando o corpo, José envolveu-o num lençol limpo 60e o sepultou em seu próprio túmulo, todo novo, que tinha mandado cavar na rocha. Depois de rolar uma grande pedra à entrada do túmulo, retirou-se. 61Estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas em frente ao sepulcro.

A guarda junto ao sepulcro. 62No dia seguinte, isto é, depois da sexta-feira, os sumos sacerdotes e os fariseus foram a Pilatos 63e disseram: “Senhor, lembramo-nos de que aquele impostor disse em vida: ‘Depois de três dias ressuscitarei’. 64Manda, pois, guardar o sepulcro até o terceiro dia para não acontecer que os seus discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos’. E esta última impostura será pior do que a primeira”. 65Pilatos lhes disse: “Vós tendes a guarda. Ide e guardai-o como bem entendeis”. 66Eles foram e puseram guarda ao sepulcro depois de selarem a pedra.

28 A ressurreição de Jesus. 1Passado o sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. 2Subitamente houve um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu, aproximou-se, rolou a pedra do sepulcro e sentou-se nela. 3O seu aspecto era como o de um relâmpago e sua veste, branca como a neve. 4Paralisados de medo, os guardas ficaram como mortos. 5O anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: “Não tenhais medo. Sei que procurais Jesus, o crucificado. 6Ele não está aqui! Ressuscitou conforme tinha dito. Vinde ver o lugar onde estava. 7Ide logo dizer a seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e que vai à frente de vós para a Galileia. Lá o vereis. Eis o que eu tinha a dizer”.

Jesus aparece às mulheres. 8Afastando-se logo do túmulo, cheias de temor e grande alegria, correram para dar a notícia aos discípulos. 9De repente, Jesus saiu ao encontro delas e disse-lhes: “Salve!” Elas se aproximaram, abraçaram-lhe os pés e se prostraram diante dele. 10Disse-lhes então Jesus: “Não tenhais medo! Ide dizer a meus irmãos que se dirijam à Galileia e lá me verão”.

O suborno dos soldados. 11Enquanto as mulheres iam, alguns dos soldados vieram à cidade e comunicaram aos sumos sacerdotes tudo o que havia acontecido. 12Reunidos em conselho com os anciãos, eles tomaram bastante dinheiro, deram-no aos soldados 13e disseram: “Dizei que os discípulos vieram à noite e roubaram o corpo, enquanto dormíeis. 14E se a coisa chegar aos ouvidos do governador, nós o aplacaremos, e vós estareis seguros”. 15Pegando o dinheiro, os soldados fizeram como lhes fora dito. Esta versão espalhou-se entre os judeus até o dia de hoje.

A missão dos apóstolos. 16Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17Logo que o viram prostraram-se; alguns, porém, duvidaram. 18Então Jesus se aproximou e lhes disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. 19Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. Eis que eu estou convosco, todos os dias, até o fim do mundo”.

Author: Cássio Abreu

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